quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Acordando os comentaristas

Blog Cesar Valente ; 4/12/2008

Nos últimos dias, duas notas provocaram os comentaristas: a do óleo de peroba (o prêmio instituído pelo LHS que ele próprio recebeu) e a sugestão de trocar a velha ponte HL por uma moderna e (olha a provocação aí de novo!) mais bonita.

No primeiro caso, acho que deixei clara a minha opinião: achei um absurdo. No segundo caso só coloquei a cartinha que tinha recebido de um leitor, sem dizer o que pensava a respeito. E fui cobrado por isso.

Em primeiro lugar, é bom esclarecer que acho que tudo pode e deve ser discutido e debatido. Não deveriam existir áreas restritas, temas proibidos, zonas onde não se entra. Assim, acredito que se pode conversar sobre qualquer assunto e examinar todas as hipóteses. Mesmo porque, como a gente não tem poder, não decide nada, não tem mandato e sequer somos uma parcela significativa da população, o que se diz aqui é apenas um exercício que se assemelha em muito à conversa agradável, animada e proveitosa que às vezes temos na mesa de algum bar.

Então, derrubar a ponte é uma hipótese, dentre várias. Derrubar as duas pontes de concreto e substituí-las por túneis, também. Pessoalmente, a forma como Florianópolis vem sendo conduzida me incomoda há muitos anos. Achei muito legal quando surgiu a idéia, décadas atrás, de transferir o centro administrativo e praticamente toda a cidade “nova” para o Campeche. O centro histórico ficaria preservado como... centro histórico. Atração turística imbatível, lugar interessantíssimo que equivaleria hoje a tantos outros centros preservados que existem no mundo.

Mas a coisa não prosperou. O futuro não é algo que esteja no ângulo de visão de nossos doutos dirigentes (vereadores incluídos) e preferiram fazer o que fizeram e deu no que deu. A mesma coisa quando foram fazer as novas pontes. Havia idéias interessantes, mas que em algum ponto do caminho foram sendo modificadas de acordo com os interesses imediatos.

Portanto, conhecendo a história e cada vez mais desconfiado da competência e da capacidade de planejamento daqueles que se sucedem no comando da cidade e do estado, acho que quanto menos ambicioso o projeto, menores danos causará. Não fosse essa a realidade, eu acharia muito interessante utilizar o ponto da ilha mais próximo ao continente para estabelecer uma ligação monumental. Nova, fotogênica, com tudo o que a moderna engenharia tem para o proveito e a mobilidade humana. Não é, para mim, importante que tenha os mesmos traços da ponte atual, mas não acharia ruim se lembrasse a velha ponte. Com ciclovia, fácil e seguro acesso para pedestres, espaço para bondes, pistas exclusivas para ônibus e veículos de emergência, etc e tal.

Mas, ao mesmo tempo, começo a temer pelo seguinte cenário: a construtora contratada quebra, porque não tinha capacidade adequada, o projeto foi reduzido, para que a obra ficasse pronta antes da próxima eleição, os acessos não ficaram prontos, houve problema com as desapropriações e coisa e loisa. Resultado: desmancham a ponte velha e no lugar colocam uma pinguela provisória, trazida, quem sabe, lá da Barra da Lagoa. Ou então uma coisa projetada pelo mesmo arquiteto dos viadutos, com aqueles bonecos fazendo as vezes de pilastras. Que medo!

Com o túnel ocorre a mesma coisa. Seria ótimo que a ligação com o continente fosse discreta, liberando as águas para navegação e despoluindo a paisagem. Mas alguém acredita que a obra será entregue pronta e completa, com todas as bombas e recursos necessários para não alagar em dias de muita chuva? E para ficar pronta ao mesmo tempo que toda a rede viária correspondente? Não vai faltar um viaduto? Umas pistas a mais? O tráfego em seis pistas do túnel não vai desembocar numa avenida de duas?

Se planejamento cuidadoso e execução minuciosa fosse o nosso forte, a cidade teria outra cara. E, provavelmente, outra ponte no lugar da Hercílio Luz. Ou mesmo a Hercílio Luz em bom estado, ainda em uso. Também não teria voltado as costas para o mar nem se entregue, com tamanha volúpia, ao automóvel individual e agora, com volúpia ainda maior, às anti-ecológicas motocicletas.

Numa ilha, ainda mais uma ilha com a geografia caprichosa da nossa, as restrições são inevitáveis. O “não pode” deveria ser decidido com critério e obedecido sem exceções. Mas esse clima quase familiar de ilha, de ação entre amigos, foi criando uma usina de permissões. Não pode, mas dá-se um jeito. Mesmo que, ali adiante, essa permissãozinha amiga inviabilize uma obra que beneficiaria a comunidade.

Então é isso. Sou a favor, mas sou contra. E qualquer que seja a intervenção do poder público no espaço urbano, desconfio sempre que não vai dar certo. Mas, se quando ficar pronta o meu pessimismo for contrariado e entregarem alguma coisa boa, útil e bem feita, não tenho problema nenhum em aceitar. Gostaria mesmo de ser contrariado sempre.

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