sábado, 29 de março de 2008

Civilidade

Quando o Rio deixou de ser uma “Cidade Maravilhosa”?

Quando São Paulo deixou de “Quatrocentão” e “da garoa”?

Quando Florianópolis deixou de ser a “Terra de sol e mar”?

As denominações simpáticas, que costumavam ser associadas automaticamente a estas cidades, perderam o sentido.

A violência urbana, engarrafamentos, favelização e outros “danos colaterais” gerados pelo que supostamente seria progresso e/ou desenvolvimento, eliminaram os adjetivos afetuosos vinculados às cidades substituindo-os por um rosário de reclamações contra os aqueles que estão nocauteando a qualidade de vida.

Existem inúmeros fatores que contribuem para a deterioração da infra-estrutura do país e das suas grandes e médias cidades, a construção civil tem uma parcela considerável de culpa por esta situação.

Em Florianópolis diversos bairros apresentam as cicatrizes deixadas pela passagem predatória das empresas da construção civil, materializadas por projetos de arquitetos e engenheiros que ignoraram princípios éticos, por políticos, que “generosamente” criaram alterações de zoneamento que permitiram estas aberrações, legitimadas por funcionários do município cujos interesses pessoais foram colocados à frente dos interesses da cidade e de seus moradores.

Áreas antes agradáveis tornaram-se objeto da ganância, combustível que alimenta a corrida imobiliária.

No entanto, a história baseia-se em fatos e provas materiais, elas estão aí para que todos possam compreender a extensão dos danos causados pela ocupação indiscriminada do solo.

Bairros como João Paulo (Saco Grande), Itacorubí, Ingleses e Campeche são testemunhas (e provas) dos danos infligidos pela construção civil e seus servos.

Regiões sem infra-estrutura, com sistema viário inadequado e deficiências no abastecimento dos serviços urbanos básicos foram ocupados como se fossem dotados de amplas ruas e avenidas, sistema de abastecimento de água, coleta de esgoto, rede elétrica e telefônica semelhantes aquelas existentes em áreas planejadas e executadas conforme os dispositivos legais.

A corrupção e a falta de ética são constantes na história da humanidade porém, para chegar ao ponto da permissividade verificada em Florianópolis tornou-se necessário um fator: a passividade da população.

Nenhum destes danos teria ocorrido caso o povo da cidade manifestasse sua contrariedade antes dos eventos, não foi o que ocorreu.

A população manifestou-se apenas quando os estragos já haviam ocorrido.

O histórico da perda de qualidade de vida em Florianópolis é um fenômeno recente, coisa de 20 anos.

Porque ignoramos o que estava sendo feito frente aos nossos olhos?

Porque não interferimos quando isto ainda era possível?

Porque insistimos em não aprender as lições da história?

As respostas a estas perguntas, caso tenhamos a coragem de enfrenta-las, traçam um retrato pouco elogioso de todos nós que supomos ser cidadãos.

Bobagem, tudo isto ocorreu pois o primeiro princípio que abandonamos foi a civilidade.

Deu no que deu.

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